Antes da virada do ano, René Simões, diretor executivo de futebol do
Vasco, recebeu uma carta da Astovas (Associação de Torcedores do Club
de Regatas Vasco da Gama) pedindo a reintegração do meia Felipe. Nesta
quarta-feira, o dirigente enviou um documento à torcida, listando
indiretamente as indisciplinas do jogador e deixando claro que o
afastamento está definido.
René Simões chegou a citar Carlos
Drummond de Andrade e pediu o apoio de todos os envolvidos na retomada
do Gigante da Colina para a temporada 2013. Confira abaixo a carta
enviada ao UOL Esporte:
Ídolos são exemplos de performance dentro e fora de campo!
Prezados representantes da ASTOVAS e torcedores Vascainos,
Quero em primeiro lugar agradecer a carta de vocês – que golaço! Sinto a
energia e amor ao Vasco nas palavras. Sinto também a cumplicidade no
que combinamos na nossa reunião, pois sei que a opinião e pensamento de
vocês têm que ser tratados com o máximo de respeito e atenção na nossa
tomada de decisões, mesmo que a decisão tomada não seja a esperada
naquele momento.
Já estava escrevendo minha resposta curta e
direta para vocês quando soube da publicação da carta. Como vocês
representam a voz da torcida, permitam-me também torná-la mais
explicativa e publicar a resposta com algumas colocações que entendo
serem pertinentes para o momento.
Entendo perfeitamente o
anseio de vocês por não perderem mais um dos grandes nomes do Vasco.
Vocês têm sofrido com um final de ano muito difícil e estão preocupados
com 2013. Porém, em se tratando do futuro do Vasco, do caminho que temos
que tomar, é necessário que a razão fale mais alto do que o coração. E é
com a razão que eu peço que vocês analisem os pontos abaixo.
1. Dentro de uma empresa, todo funcionário que quebra as regras e ética
em seu comportamento tem que ser disciplinado. Por mais talentoso em sua
profissão que ele seja, é preciso considerar as consequências desse
comportamento contínuo dentro de um grupo – como a quebra da hierarquia,
disciplina e harmonia entre todos os membros.
2. A situação do
Vasco está longe de ser a ideal no momento, mas também longe de ser
insolúvel. Mesmo assim muitos de seus ídolos já foram buscar seus
direitos na Justiça. Mesmo tendo ido à Justiça continuaram sendo ídolos.
3. Alguns jogadores já tiveram seus salários reajustados em plena
vigência de seus contratos, ou teriam saído para outros clubes. Certos
ou errados, não deixaram de ser ídolos.
4. Um ídolo, craque
dentro de campo durante os jogos, não pode se eximir de suas
responsabilidades. Toda empresa é assim. Por que abrirmos exceção no
futebol? É preciso chegar na hora marcada, treinar forte, suar a camisa
pelo clube, cuidar da saúde e do corpo, não exigir privilégios ou
posição dentro de campo, se transportar de forma que não corra perigo ao
seu corpo ou sua vida, não simular contusões, não fugir de viagens
longas de ônibus, não se poupar nos treinamentos, pois tem outra
atividade esportiva logo após, respeitar a hierarquia, ter cuidado nas
entrevistas e comentários sobre a
Instituição, dentre outras coisas.
Não são essas as obrigações dos grandes jogadores de futebol ou só os carregadores de piano devem fazê-lo?
5. Fui ao dicionário buscar o significado da palavra ídolo e encontrei
algumas, mas em nenhuma delas está escrito – “Ídolo: pessoa ou indivíduo
dotado de grande talento, admirado por muitos, que por sua capacidade
de realizar algo próximo da perfeição possui direitos especiais e
deveres diferenciados ou reduzidos.”
6. O Vasco foi o primeiro
clube a aceitar negros – sem o Vasco não haveria Pelé. Foi também o
primeiro clube a aceitar pagar salários aos seus atletas para jogarem -
sem o Vasco não haveria salários milionários. O Vasco construiu o maior
estádio particular da América Latina através de seus torcedores. O Vasco
é muito grande para aceitar que seus ídolos não o tratem com o respeito
que ele merece – Ídolos precisam ser exemplos que fazem a alegria do
torcedor, mas que contribuem positivamente para a união do grupo e
formação de gerações futuras. Precisam ser disciplinados e exercer suas
funções adequadamente.
7- Tenham absoluta certeza de que eu não
tenho nada de pessoal contra o Felipe. Como também não tinha e nem
tenho quando falei sobre o Neymar. Com o Neymar pensei no futuro do
futebol brasileiro e dele mesmo. Pensei como educador e principalmente
como torcedor e fã de seu futebol.
Hoje, tenho uma grande
responsabilidade de fazer com que todo o elenco que estará no clube em
2013 esteja com a certeza de que não haverá regalias, independentemente
de status, conquistas, tempo no clube ou salário em dia, obrigação do
clube, ou atrasado, lamentavelmente. Preciso fazer com que eles tenham
no Vasco o objetivo principal para que cada um atinja seu objetivo
pessoal através do sucesso do grupo
Sei que vocês gostariam de
receber um posicionamento diferente. Seria muito mais fácil e menos
desgastante para mim. Mas como já falei na reunião com vocês, não venho
para usar o Vasco ou para tê-lo como um trampolim. Não quero brincar com
o Vasco nem estou interessado em gerar alegrias a curto prazo que geram
frustração futura. Quero ajudar a reerguer o Vasco na grandeza do
Gigante da Colina, do Expresso da Vitória.
Por favor confiem no
trabalho que estamos realizando. Temos profissionais muito sérios
lutando pelo Vasco. Nos deem tempo para resolver com calma e
profissionalismo sem atropelar o que é necessário fazer.
Espero
estarmos criando uma nova forma de comunicação e respeito entre o clube
e a torcida. Tenho fé de que nosso ano que começa será marcado por essa
grande aliança que estamos estabelecendo, e que isso nos gerará sucesso
dentro e fora do campo.
Já tivemos uma grande Vitória com a
demonstração de união e amor pelo clube dada pelo Conselho Deliberativo
na votação do orçamento. As ideologias ficaram de lado e o Vasco ficou
acima de tudo. Parabéns aos conselheiros.
Tenham paciência e
resolveremos tudo, com habilidade, energia, hierarquia, paciência e,
acima de tudo, respeito ao Vasco e a você torcedor.
Desejo à todos um 2013 de muitas alegrias e saúde e cito Carlos Drummond de Andrade para motivá-los.
"Cortar o tempo
Quem teve a ideia de cortar o tempo em fatias,
a que se deu o nome de ano,
foi um indivíduo genial.
Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar no limite da exaustão.
Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos.
Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez, com outro
número e outra vontade de acreditar que daqui pra diante vai ser
diferente".
http://esporte.uol.com.br/futebol/ultimas-noticias/2013/01/02/rene-envia-carta-a-torcida-do-vasco-lista-indisciplinas-e-reafirma-afastamento-de-felipe.htm
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